sobre o vício por desgraças...

é sempre assim,
os passantes sempre param para não perder o show da vida
a multidão, passiva, apenas observa a desgraça acontecer
e todos, sedentos por sangue, apreciam a morte do próximo
como um filme que nos faz chorar, uma comédia que nos faz chorar de rir
e cada vez gostamos mais, e cada vez queremos mais.

sobre dúvidas cruéis...

será que vale a pena chorar
por alguém que nem passou?
ou então se apaixonar
por alguém que nunca vistes?

ou, sei lá, querer demais
um alguém que não te olha?
ou então se apegar
a quem não te deu a mão?

será que vale a pena gritar
pra que nunca te escutou?
ou então querer demais
os que nunca te quiseram?

ou, quem sabe, amar demais
os que nem, se quer, te beijam?
ou então beijar os lábios
de quem já te envenenou?

será que vale a pena acreditar
nos que sempre te enganaram?
ou então se entregar
aos que nunca conhecestes?

ou, talvez, ser bem fiel
a quem vive te traindo?
até mesmo se matar
por quem nunca o quis vivo?

será que vale a pena escrever
para aqueles que não lêem?

sobre o silêncio...

xiuuu,

ouça as vozes do silêncio
fique quieto no seu canto
e não cante mais canções
e nem fale palavrões

apenas ouça o coração
de quem nunca diria aquilo
que um dia ouvi de ti
que um dia me matou

aprenda a ouvir quem nada fala
que é lá que encontrarás
tudo aquilo que um dia
eu fingi que encontraria.

sobre daianas...

quando você passa na minha rua
todos param pra te ver

quando você canta minha música
todos param pra escutar

quando você pula carnaval
todos saem atrás do bloco

e ninguém tem olhos pra mais nada
você é o foco, apenas você

o mundo, em preto e branco,
sai de cena, se desfoca, se desloca

e você se ilumina, se pinta de alegria
e todos só têm olhos pra você.

sobre jornais...

Jornais foram feitos para serem lidos,
mas ultimamente são melhor aproveitados
se usados para espantar o frio
daqueles que não têm um teto.

Ou mesmo para acender a lenha
da lareira dos que têm até demais.

Sinceramente, não dá mais.

sobre falta de criatividade...

tem dias que eu choro tanto
tem dias que sou pura alegria
tem dias que tenho medo da morte
tem dias que não quero mais viver

tem dias que acordo cantando
tem dias que não abro a janela
tem dias que ando sonhando
tem dias que corro dos pesadelos

tem dias que a vida me abraça
tem dias que ninguém me estende a mão
tem dias que passo muita fome
tem dias que te como com os olhos

tem dias que te vigio sem cansar
tem dias que não quero mais saber
tem dias que as coisas mudam muito
tem dias que tudo é tão estático

tem dias que sou brasileiro
tem dias que desisto de tudo
tem dias que canto um rock
tem dias que sou tão calmo

caralho,
tem dias que não consigo escrever nada de bom.

sobre sonos e sonhos

durma bem meu anjo

durma que o sono já chegou
apague as luzes e verás
um belo sonho a te esperar

durma bem meu anjo

feche os olhos devagar
se encolha no seu canto
e abraçe o travesseiro

durma bem meu anjo

pense um pouco no passado
chore um pouco de tristeza
e abra os braços pro amanhã

durma bem, meu anjo

porque a vida continua
e o que está por vir
será melhor do que já foi

durma bem meu anjo

e se lembre de quem é
e se lembre de quem sou
e se lembre de lutar

durma bem meu anjo

não se esqueça de viver
não se esqueça do amor
de ligar despertador

durma bem meu anjo

e acorde em paz de espírito
já bem pronta pra batalha
que terá que ser vencida

e aproveite as coisas lindas
veja a flor, o mar, o sol
ouça o vento e os pássaros

e quando, mais uma vez aos teus pés,
a noite lhe trouxer a lua
cante bem baixinho aquela música

e sorria para o mundo em chamas
sem se esquecer de nós lá fora,
repouse no seu leito de flores brancas

e durma bem... meu anjo.

sobre quarta-feira de cinza

vou tratar de aproveitar os últimos raios de lua
dançar ao som das últimas marchinhas

correr atrás dos últimos blocos
e antes que a quarta-feira de cinzas amanheça

me perder com vc pelas ladeiras de chão de pedra
girando em tornor de nós mesmos

nos embriagando, para o cansaço não vencer
vivendo a felicidade da última alegria

antes que a quarta-feira de cinzas apareça
e mate o pouco do que nem chegamos ser.