Apenas um espaço para livre expressão dos meus pensamentos, das coisas que eu entendo ou não, de textos e poesias de terceiros, ou qualquer outra coisa que der na telha. Afinal, a internet nos permite tudo isso e muito mais. That's all!

27 junho, 2006

sobre sonhos e desilusões

lembro que sempre quis ser astronauta
mas o mais perto que cheguei da lua
foi quando fingi ser um caubói de verdade
montado num cavalo de brinquedo.

19 junho, 2006

sobre bailarinas e ballarini...

feliz foi o dia em que te vi

linda menina bailarina

sob a lona do mesmo velho circo
discreta, ensaiando os primeiros novos passos
menina bela, sorridente e provocante
e nem era carolina, era apenas bailarina

linda menina ballarini

e o palhaço ainda lá
não se cansa de olhar
sapatilha vai e vem
e a cabeça vira e volta

linda menina bailarina

mas o tempo, como sempre, foi cruel
e a vida, outra vez, não permitiu ensaios
a cortina se fechou e o circo foi-se embora
sem tua dança, sem teu rosto, sem lembrança

e o palhaço ???
se cansou de tanta graça
já não ri, não mais faz chorar de rir
já não canta, não encanta

apenas olha e chora em silêncio no seu canto
o mesmo canto em que, parado, a viu dançar
fica quieto, quase inerte
murmurando tristes músicas de saudade.

sobre apertadores de parafusos...

Trim trim trim!!!

Todo dia é a mesma história. Como aqueles capítulos de desenhos animados que a televisão não cansa de passar, minha vida se repete, dia após dia, por semanas e meses. Há vinte e cinco anos, sempre a mesma coisa.

O despertador toca, como quem grita meu nome sem cessar, me chamando para mais um dia de trabalho árduo. O relógio velho de parede ainda nem deu cinco badaladas, mas o sol já me mostra seus primeiros raios de luz, iluminando meus olhos cansados deste amanhecer.

Tudo é muito rápido, o banho, a barba, o adeus à mulher amada e o beijo nos dois filhos que ainda dormem, feito anjos. A vida tem que ser corrida, não pode parar. Assim como a linha de montagem que me aguarda, já ligada e prontinha pra rodar, nada pode parar.

Então me apresso, saio de casa e vou pro ponto de ônibus, o mesmo ponto de todas as manhãs. Pode parecer ironia, mas os mesmos carros que encaro frente a frente, todos os dias, estão tão distantes do meu pobre padrão de vida, de brasileiro assalariado. Mas deixemos isso pra lá, pois com isso não me importo mais. Hoje tenho outras prioridades para investir meu dinheiro: as três pessoas que deixei em casa dormindo. O pão na mesa e a saúde que o plano médico da empresa pode pagar já me bastam e fazem de mim um ser bem mais tranquilo.

Bom, vamos ao que interessa. Já cheguei na fábrica e agora não posso mais parar para pensar nessas coisas. Tenho que estar focado no serviço. Mesmo sendo tão repetitivo, o trabalho exige atenção, pois um erro meu pode custar caro. Se apenas um das centenas de parafusos, para não dizer milhares, que aperto todos os dias não for bem colocado, muitos problemas podem aparecer lá na frente, quando tudo estiver pronto.

Por isso, aqueles mesmos olhos que quase não se abriam pela manhã, agora estão esbugalhados, cem por cento voltados para a chave de fenda. Mesmo sofrendo com os deboches de colegas indiciplinados, mantenho meu foco na rotina. Não que eu goste do que eu faça. Não sou nenhum devoto de Henry Ford, o santo da administração, o inventor desta maldita linha de produção que faz de mim um completo robô. Sou apenas um bom trabalhador, que não teve muitas opções na vida e nem, ao menos, teve estudo. Então me concentro e só paro para o almoço. Uma hora depois estou de volta, com a ferramenta nas mãos e a cabeça no trabalho. Até que a sirene toque e é chegada a hora de ir embora.

É bom voltar pra casa, mas estou sempre tão cansado. È muito raro ver meus filhos e minha esposa depois de um dia inteiro naquela fábrica. Todos estão fora, apenas meu cachorro me recebe, me pede um pouco de carinho e um pedaço de pão toda vez que me vê dobrar a esquina. Quando a família retorna ao lar eu já dormi, me preparando para o dia de manhã.

E assim minha vida segue. E esta história se repete dia a dia, sem grandes novidades, sem novas idéias, sem muitos ideais. Apenas seguindo aquilo que me foi imposto sem que eu me desse conta do buraco em que caía. Vou sobrevivendo, construindo belos carros novos e confortáveis, para que você possa desfrutar de um tranqüilo fim de semana nas montanhas com a família.

E por que este texto interessa a você, caro leitor amante de carros? Pra ser sincero não sei, talvez não interesse mesmo. Foi apenas um desabafo de um pobre montador que pouco tem a acrescentar a sua vida. Só espero que, ao sentar-se na frente do volante, lembre-se que por trás de tudo isso, bem antes de todo luxo, esteve um trabalhor honesto. Um homem de bem, ótimo pai de família e, principalmente, um excelente apertador de parafusos.