Apenas um espaço para livre expressão dos meus pensamentos, das coisas que eu entendo ou não, de textos e poesias de terceiros, ou qualquer outra coisa que der na telha. Afinal, a internet nos permite tudo isso e muito mais. That's all!

22 maio, 2007

sobre palcos vazios e vidas perdidas

Depois de tudo, ela ainda sorria
Cantava pelos corredores da casa
Andava despreocupada pelas loucas estradas do seu mundo
Um lugar mágico, cheio de vida, cheiros e cores
E sem sair do lugar, ainda caminhava, sonhava
Imaginava um mundo em que todos seríamos iguais
Mesmo com as mais marcantes diferenças, seríamos todos iguais

Ela também sonhava com o amor
O príncipe encantado morava ao lado
E logo viria lhe buscar, para juntos se perderem pela vida
Para juntos construírem um novo mundo
Ela apenas sonhava, tudo era simples e perfeito
E o fim seria ainda melhor, um "happy end" já predestinado
Como num teatro de segunda, que sempre acaba em "grand finale"


Mas de repente algo dá errado
Os holofotes se apagam
Tudo fica tão escuro
Um silêncio na platéia
Um papel não decorado
Uma vida ensaiada
Tem que ser improvisada

A insegurança
O desespero
Os olhares de menina
A mulher
Sim, uma mulher
Que não quer se ver crescer
Nunca quis pagar pra ver


Caiu a primeira lágrima
Caiu-lhe o mundo à cabeça
A cortina do real repentinamente se abriu, num piscar de olhos
Sua vida tomou os desconhecidos rumos da realidade
Sem estórias, personagens, fantasia
Um preto e branco mal iluminado

Caiu a segunda lágrima
Caiu o coração partido ao ver a foto no jornal
Agora no seu mundo há mortes demais, miséria e fome
Há religiões, há povos que fazem guerra santa em busca da santa paz
Só soldados sem princípios, preconceitos
Não há príncipes em cavalos brancos, nem quixotes

Caiu a terceira lágrima
E com ela todas as que restavam
Molhando e destruindo o roteiro da alegria
Acabando com a esperança e com os sonhos de menina
Deixando apenas belas memórias ilusórias
E a lembrança do seu último sorriso naquele palco vazio

Foi o último dia da sua vida

E o mundo hoje é bem mais triste
A peça chegou ao fim, as cortinas se fecharam
E por trás de todo o seu cenário, um buraco
Que ficou aberto no coração de muitos que ficaram na platéia
Carregando agora, além de tudo,
A dor das feridas abertas pela sua ausência.

15 maio, 2007

sobre rimas pobres numa noite fria..

“3 de outono”

Noite fria, os pés descalços
Corpo mole de cansaço
Já não é mais sexta-feira
Nem janeiro ou fevereiro

To perdido pelo tempo
Sem ter tempo pra mim mesmo
Nem ao menos em teus beijos
Eu encontro meus desejos

Sem a imagem no espelho
Eu me olho, não me vejo
Como cinzas (quarta-feira?)
Que no vento, só o cheiro

E o vazio no meu peito
É a lembrança que não veio
De uns dias tão felizes
Resta o sangue no banheiro.

e as horas passam lentas demais
e os dias parecem não ter fim

As folhas do calendário velho,
O vento carregou pela janela que ficou aberta
E a pequena fresta no coração de quem tentou amar
Hoje é grande demais para o peito frágil suportar

E a vida, assim, caminha para o fim
Corre lenta para o abismo, quase pára
Vai e vem, num lindo e delirante paradoxo
Sem destino, sem começo, solidão

e os meses estão longos demais
e os anos parecem não passar

Eu espero, sem saber aonde irei
Não me importo com mais nada
Hora, dia, mês ou ano
Março, junho, julho, agosto

Não tem mais a primavera
Nem inverno e nem verão
Coração tá tão sem dono
Não há mais o 3 de outono.