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21 fevereiro, 2006

sobre colação de grau...


Um dia olharemos para trás e veremos como nossa vida foi um fiasco. Nossos sonhos de criança nunca se realizaram. Nunca seremos astronauta, nem jogador de futebol, nem roqueiro, nem artista de circo. No máximo um mágico, que tem que viver de ilusões para esquecer o quão dura a vida é. No máximo um palhaço, que tem que fazer seus filhos rirem das desgraças do mundo, mesmo não achando graça em nada daquilo, mesmo não sendo tudo que um dia sonhou ser, mesmo não tendo tudo aquilo que um dia fingiu buscar.

Um dia olharemos para trás e veremos as oportunidades do passado escapando por entre os dedos de uma mão tão jovem e já tão trêmula. Veremos uma pessoa tão insegura quanto a segurança que ela busca, tão instável quanto a estabilidade que a cerca, tão infeliz quanto o sorriso que carrega na cara para cima e para baixo. Quase tudo era feito de plástico, desde as roupas até os gestos, desde o olhar até as lágrimas. Só os sentimentos eram verdadeiros, mas não conseguiam sair para que o mundo os vissem. Vez ou outra tinham seus quinze minutos de fama, em atos de pura insanidade, mas que não foram suficientemente insanos para que a vida começasse a brilhar.

Um dia olharemos para trás e lembraremos do dia em que assistimos àquele belo e triste filme, que falava de amor e revolução, tudo em busca da felicidade constante e real. E mais uma vez perceberemos que nada fizemos para buscar aquilo que, um dia, fingimos estar buscando. E mais um vez sentiremos a tristeza esmagar a falsa alegria. E mais uma vez iremos querer voltar ao passado para tentar consertar os nossos erros. E mais uma vez veremos que isso é impossível. E mais uma vez beberemos até o fim, cairemos no chão sujo, rasgaremos as fotos velhas, quebraremos os discos preferidos e atearemos fogo nos livros de Che Guevara.

E mais uma vez morreremos por um dia. Até que outro dia amanheça e nos obrigue a voltar para o trabalho e dar o que comer aos filhos banguelas. Filhos que um dia terão o mesmo número de dentes que nós. Filhos que um dia terão os mesmos ideais. Filhos que um dia terão as mesmas desilusões. Filhos que um dia não terão nada, apenas as lembranças de um passado que não aconteceu como deveria ter acontecido.
E disso eu tenho medo, muito medo.